Especial Oscar - Selma
- coopingblog
- 22 de fev. de 2015
- 3 min de leitura
Por: Edgar Oliveira Schuffner
Na ocasião das indicações ao Oscar, muito se falou do fato de Selma ter sido indicado ao prêmio, muito mais pela cota "social" que tem se tornado prática comum na premiação que pelo filme em si e é um enorme equívoco afirmar isso.
Selma tem qualidades demais para ser considerado apenas o "azarão" da premiação, aquele que está lá para mostrar que a Academia está de olho nas questões sociais e não quer relegar as mesmas. Selma te arrasta, te impele e te move, da mesma forma que a marcha da cidade que leva o nome do filme a Montgomery fez com milhares de pessoas.
O filme realmente trata uma questão já bastante retratada em outros longas e ainda aborda a figura de Martin Luther King, também bastante presente em filmes por aí, mas ele resolve dar atenção especial a um momento em especial da história de Luther King, talvez o momento mais decisivo da luta dele: a atuação na cidade do Alabama, Selma.
Selma, assim como outro concorrente a Melhor Filme, o Jogo da Imitação, tem êxito ao escancarar para aquele que assiste, que histórias e questões sociais, consideradas como antigas por muitos, na verdade, apenas se reinventam e assumem outros rostos, faces e dizeres e, na verdade, não estão mortas, pelo contrário, estão mais presentes que nunca.
No caso do longa em questão, a situação ainda se mostra mais alarmante, se considerarmos que o filme vencedor de Melhor Filme na edição anterior da premiação, 12 anos de Escravidão, tratou exatamente dos mesmos questionamentos, apenas com "roupagens" diferentes.
Assusta perceber que do período retratado em 12 anos de Escravidão, o ano de 1853, para Selma, o ano de 1965, passaram-se 112 anos. E que de 1965, para 2015, mais 50 anos somam-se à conta, sem o cerne da questão debatida em ambos os filmes tenha realmente mudado: mudaram-se direitos governamentais, mas o lado humano da questão pouco mudou.
O longa prima por seu roteiro rápido, sem ser corrido, e emocionante, sem ser piegas ou exagerado. Dessa, forma, as mais de duas horas de filme parecem imperceptíveis e a forma com que a luta de Martin e seus colegas se desenrolou consegue atrair quem assiste a ponto de comover verdadeiramente, sem ser necessário recorrer a exageros.
Selma, inclusive, guarda algumas das cenas mais emocionantes dessa leva de filmes indicados ao Oscar. Na verdade, o longa consegue ser o filme, dentre todos da lista, que mais consegue emocionar.

A intensidade de suas cenas, mescladas à percepção que tudo retratado lá ainda é tão presente, acaba por funcionar como um "soco no estômago" em vários momentos.
Outro ponto a ser destacado é como o roteiro conseguiu dosar o tom do personagem do presidente Lyndon Johnson, no longa. O presidente não soa em momento algum maniqueísta, soa como alguém que lida com a política, que esbarra na política várias vezes e que assume a dificuldade que se é "fazer política".
No entanto, Selma vacila um pouco ao se mostrar "mastigado" demais, chegando a soar pedagógico demais algumas vezes e isso atrapalha a naturalidade com que os fatos são narrados.
Esse problema não impede Selma de ser o filme mais emocionante de todos os indicados e de livrar o filme do rótulo "cota social" da premiação. Tem humanidade suficiente diluída naquelas duas horas para que tal acusação seja feita. Humanidade, não. Falta de humanidade, talvez. Com um misto de descrença.

Comentários:
Entidade: Falar de um filme onde fiquei engasgado em praticamente todos os momentos é difícil, difícil demais.
Selma trouxe pra mim um nó na garganta, parecido com aquele que eu tive ao assistir “Jogo da Imitação”. Ver a crueldade e novamente refletir sobre a existência da mesma no presente, sobre um assunto que não deveria NUNCA ser tabu, me faz sentir revolta.
O racismo foi tratado no filme de forma tão intensa, que por um momento senti-me dentro do filme em uma passeata recebendo porrada. Depois de voltar a um estado normal e perder aquela mágica que tinha de que Martin L. King era um homem perfeito (a mágica foi quebrada por motivos bobos, mas isso não vem ao caso), eu consegui analisar melhor o filme.
Ao terminar de assistir Selma, eu consegui entender o porquê da carência de filmes que retratam esses conflitos do passado fielmente, que de forma nos seguem até hoje. Selma foi feito para nos mostrar o tamanho da luta contra o racismo e nos lembrar que todo ano vai haver um filme tratando do assunto de forma direta ou indireta, simplesmente para nos lembrar que isso existe até hoje.
Só que talvez, nenhum deles sejam como esse, talvez nenhum deles me façam engasgar e sentir o terror que foi sentido.
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