Especial Oscar - American Sniper

Escrito por: Igor Sérgio Michetti

Sniper (norte) Americano

Sniper Americano é daquele tipo de filme difícil de agradar ao público que não esteja inserido naquela cultura aonde surgiu, e é também difícil de agradar àquela parte da sociedade que foge dos arquétipos trabalhados na história. Pelo menos no Brasil, atualmente vivemos um período no mínimo interessante para a sociedade, temos uma divisão nociva que cria diversos grupos baseados em ideologias iguais o bastante para serem diferentes, tal qual a ideia de “Direita Capitalista” e “Esquerda Comunista”, mais engraçado, no entanto, é que tal divisão só faz enfraquecer o poder da sociedade no momento de afirmar o poder ante o poderoso Estado. Vejo grande parte julgar esse filme baseado na ideologia defendida. Porém, é impossível não se sentir inserido na cultura norte americana quando a mesma possui uma força tão expressiva que, muitas das vezes, apaga outras culturas, todo o tema militar no qual o filme se baseia é meio que um ponto em comum na maioria das obras criadas e vendidas ao redor do mundo, veja que Call of Duty é um dos nomes mais fortes quando o assunto é vídeo game, ou como o gênero ação serve de base para a maioria dos filmes da quase Floresta Sagrada.

O filme conta a história de Chris Kyle, e já começa por apresentar e assumir um lado, Chris Kyle junta-se aos Navy SEALs, unidade de operações especiais norte americana. O personagem é o modelo padrão de norte americano: forte, bonito e extremamente patriota, qualidade essa última que o tira da vida de cowboy (outro arquétipo norte americano) e o impulsiona à guerra contra aquele sujeito que derrubou as Torres Gêmeas. Com caráter biográfico, o filme se passa em várias partes da vida de Kyle, explorando até parte da criação ortodoxa (outro arquétipo), é interessante observar o cuidado com os objetos usados durante o filme, não há iPhone ali, a TV é aquela coisa bonita de tubo. Agora, se você, querido leitor, quer ver um filme que critica essa cultura norte-americana, nem pense em assistir a esse filme, é obviamente um filme que assume um lado da história e nem se importa em descrever os motivos do “inimigo”.

Chris Kyle se revela um grande atirador, tornando-se aquele camper que tanto odiamos no Battlefield. Na guerra real, no entanto, um atirador de elite é uma unidade essencial para as tropas, visto que é esse cara que dará cobertura para as tropas se moverem em certa “segurança”. Se nosso amigo pacifista e anti-USA não parou de ver o filme antes, ficará louco de raiva quando o filme assumir de vez seu lado USA-fuck-yeah. Em determinado momento, somos expostos a certo ato em cuja violência está tão explicita que o barulho do tiro anterior torna-se agradável. O filme não esconde a cultura e as ideias nas quais se baseia, vemos sob a óptica de um norte-americano quem é o “inimigo”, não há tentativa de amenizar seu lado patriota. American Sniper é um filme honesto nesse sentido. Ao dar um rosto e uma voz ao “inimigo”, o filme te coloca daquele lado somente e, com toda sinceridade, eu fui e gostei do que vi. Aliás, a atuação do Sr. Bradley Cooper está impecável, ouso dizer que está sim no nível ou acima dos outros concorrentes ao Oscar 2015.

Todavia, não vejo como esse filme agradará outros públicos que não o norte-americano, não vejo um brasileiro (como supracitado algumas linhas atrás) gostando tanto quanto eu desse filme. É um filme norte-americano contando a história de um Navy SEAL especialista em rifles de alta precisão lutando contra o inimigo do país. Toda a construção do caráter de Chris é quase uma exposição da cultura norte-americana, e toda a levada militar é como um agradecimento ao militarismo norte americano. O filme se chama American Sniper, já no título você sabe do que a obra trata. Em certo ponto, há quem possa dizer que esse filme é dum desserviço para toda luta que existe contra a suposta violência utilizada pelo estado norte americano numa suposta luta contra um suposto inimigo de Estado. No atual momento do Brasil, duvido muito que tal filme chame atenção, o inimigo aqui é aquele sujeito de terno e gravata ou aquele universitário cuja blusa vermelha estampa certo rosto estrelado, uma pena.

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