Single Player #01 - Sobre Boyhood, Birdman e como a Marvel tem minado algumas de minhas experiências
- coopingblog
- 13 de fev. de 2015
- 5 min de leitura
O Co-oping inaugura agora mais um de suas colunas: a single player.
A coluna será a única onde um membro da equipe produzirá conteúdo para o site de maneira "solo".
Geralmente, será aquela epifania que nos bate antes de dormir e que, de uma forma ou de outra, tem que virar artigo pro site de qualquer maneira!
A coluna de estreia, de autoria do Edgar, carrega um nome um pouco complicado, " Sobre Boyhood, Birdman e como a Marvel tem minado algumas de minhas experiências cinematográficas", mas vale conferir pelo discussão que é proposta.
Como na "single", nenhum de nossos membros comentam, vai caber a você, leitor, comentar no lugar!
E, pelo pouco tempo de site, já até sabemos que temos alguns leitores bastantes dispostos a fazê-lo! É ou não, Jacquelie, Wallace e Layla?
---

Sobre Boyhood, Birdman e como a Marvel tem minado algumas de minhas experiências cinematográficas.
A princípio, o título da coluna pode ser um pouco extenso demais e não fazer qualquer sentido para aquele que, nesse momento, está se propondo a ler o artigo, mas a temática para esse tal surgiu, de maneira bastante espontânea, logo após a sessão conjunta da equipe do Co-oping para assistir Birdman, a proximidade iminente do Oscar, mais as recentes novas acerca do acordo entre Marvel e Sony que só vieram para sacramentar a necessidade desse “artigo-desabafo”. A edição desse ano do Oscar tem dois grandes favoritos, Boyhood: da infância à juventude e Birdman (A Inesperada Virtude da Ignorância) e não é por coincidência que ambos os filmes serão os que vão permear toda a discussão aqui proposta. Na verdade, é justamente a contraposição que percebo entre os dois que irá fazer tudo ter sentido. E a Marvel nisso tudo, onde entra? Vai entrar, praticamente, em todos os lugares, mas não de maneira direta e escancarada. Vai entrar pelas beiradas, se esgueirando para, de certa forma, confirmar tudo o que será dito.

Talvez a melhor maneira de iniciar tudo seja pelo subtítulo que Birdman carrega, A Inesperada Virtude da Ignorância, uma vez que ao deixar a sala de cinema, após assistir o longa de Iñárritu, eu me dei conta de que, sem perceber, uma tal “inesperada virtude da ignorância” havia se alojado em mim e o pior, naquele momento, ficou lá, na minha frente, escancarada, ácida e, como o pássaro que acompanha o personagem de Michael Keaton, praticamente me esbofeteando e me envergonhando. Exageros a parte, Birdman foi um daqueles filmes que beiram a epifania, e a reflexão que o mesmo me trouxe foi como eu vinha sendo “preguiçoso” com o cinema nos últimos tempos. Como vinha crescendo em mim, lentamente, uma leve relutância com filmes que ultrapassassem a duração de duas horas ou como poucos eram os filmes que me arrastavam para o cinema. Ora! Outrora, não importasse o filme, quase que como em um ritual semanal, eu ia ao cinema conferir alguma coisa e não foram poucas as vezes em que fiz sessão dupla. O fato é que ao final de 2014, estava consolidado que aquele ano havia sido o ano em que eu MENOS havia ido ao cinema. As poucas vezes que fui, foi para conferir algum blockbuster (olha a Marvel aí!) e a desculpa que eu dava para mim mesmo era “não tem sido um bom ano para o cinema”. Lógico que não há mentira na afirmação acima. 2014 não foi um bom ano no cinema. Isso vocês, visitantes do site, puderam perceber no nosso Popeando que narra a retrospectiva 2014, mas, ora, não foi também um ano que se resumiu a Capitão América 2 e Guardiões das Galáxias, ou a apenas blockbusters. Não satisfeito, Birdman resolveu elevar essas reflexões para um segundo patamar: por qual motivo eu havia adorado Birdman e odiado Boyhood? Por qual motivo Birdman me pareceu uma deliciosa experiência cinematográfica (dessas que quero cada dia mais) e Boyhood fez eu me sentir como um alien pelo simples fato de estar indo contra a corrente e, ao contrário de “todo mundo”, não ter gostado do filme. Em partes, a resposta para esse questionamento encontra-se nas próprias indiretas que Riggan Thomson, personagem de Keaton, e seu alterego lança para o espectador a todo momento: o público hoje quer filmes de ação, quer filmes “fáceis de assistir”, filmes que não exigem do seu cérebro, filmes rápidos, sem plano sequência, sem estripulias artísticas. Eles querem algo que não os entedie. Entenda nesse momento que não estou afirmando que Birdman está nessa categoria, pelo contrário, mas compare o atual favorito ao Oscar ao Boyhood. Percebem a diferença? Birdman é sagaz, é ligeiro, é irônico e, por mais que ultrapasse duas horas de duração, é uma viagem tão insana que faz parecer que durou minutos. Na contramão, Boyhood parece durar uma eternidade. Ou seria melhor dizer que “parece durar 12 anos”?

Ironias a parte, é justamente nesse contraponto que me vi “resgatado” perante minhas experiências cinematográficas. Sim, eu continuo não gostando de Boyhood. Achei o filme pretensioso demais, chato demais, superficial demais, mas não vai ser a sua longa duração que vai me fazer bater o martelo por eu ter desaprovado o filme. Não vai ser sua longa duração que vai me fazer perder algumas das suas cenas belíssimas, como a cena final da mãe com o filho naquela sutil “despedida”, que vai me fazer não admirar o Linklater por um projeto tão ambicioso ou que não vai me fazer entender que, assim como o longa, nossa vida é feita muito mais de momentos randômicos e entediantes, do que de momentos bombásticos. Entenderam?

E sabe, em partes, de quem a culpa por nós esperarmos cada vez mais por filmes eletrizantes, com tiradas brilhantes e edição frenética? Do terceiro elemento que aparece no título do artigo. Da Marvel.
A companhia vem nos oferecendo filmes tão divertidos e prazerosos de se assistir que alguns de nós, e eu me incluo nessa, acabam se acostumando a filmes que flertem com tal dinâmica. Sim, os filmes da Marvel continuarão me arrastando para o cinema, me fazendo surtar a cada segundo e enlouquecer com cada novo rumor acerca do MCU, mas eu sinto falta de sair do cinema e sentir o que Birdman fez comigo: tocar, mexer, deixar balançado. Eu sinto falta daquele nó na garganta que senti ao deixar a sala de cinema ao assistir Ela (minha torcida no Oscar passado, inclusive), de sentir a aflição que senti na já clássica cena do enforcamento do Northup, em 12 anos de escravidão, ou de ficar semanas deprimido e com medo de envelhecer refletindo o final de Amor. É disso que tinha me esquecido. E me envergonho disso, confesso. E foi isso que Birdman, como um super-herói, deveras, salvou em mim. Em 2015, não me perderei no caminho, pois terá uma voz, não tão irônica quanto a do homem pássaro que acompanhou o Riggan em sua trajetória, me lembrando do que o cinema é capaz de fazer.
Comments