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Especial Oscar - Whiplash: Em busca da perfeição

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    coopingblog
  • 12 de fev. de 2015
  • 5 min de leitura

Escrito por: Igor Sérgio Michetti

Em busca de um limite

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Lembro-me de uma aula de física num curso preparatório para vestibular certo tempo atrás, durante um bate papo livre, o professor nos fala o seguinte: “Mas cês sabem por que tem maluco que faz muito exercício né?”, ele, nosso professor, era dono de uma bela barriguinha e nos revelou que estava tentando se livrar da mesma, “É por que, quando você faz muito exercício físico, teu corpo libera uma substância logo depois de você terminar, acho que se chama endorfina, e o mais legal desse negócio é que ela te dá um ‘barato’ maneiro. Daí você vê aquele bando de retardado rindo voltando pra casa suado parecendo que saíram duma zona sem ar-condicionado”. Eu não sei por que me lembro disso, e também não sei por que um professor de física me ensinou aquilo, mas aprendi naquele dia que a endorfina é um hormônio que atua como morfina natural no corpo, e ainda aprendi que esse hormônio é como uma recompensa natural recebida em doses interessantes ao chegar em seu limite físico. Whiplash é um filme sobre limite.


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À primeira vista, Whiplash parece somente mais um filme sobre como o esforço pode lhe render coisas boas na vida. O filme nos faz acompanhar Andrew (Miles Teller), baterista estudante em uma renomada escola de música que, basicamente, quer ser o melhor no que faz e, ao ser convidado para a banda do professor Sr. Fletcher, bem, algumas coisas irão acontecer, nesse momento você começa a perceber que o filme se distancia daquela história bonita sobre esforço. Quem o dirige é um cara chamado Damien Chazelle, e a grande maioria dos atores me é desconhecido a não ser pelo Sr. J. K. Simmons, talvez esse seja um dos trunfos da obra, a falta de um rosto desconhecido é benéfica e ajuda o espectador a embarcar na história, temos também uma das melhores atuações do ano aqui, J. K. Simmons entrega um trabalho de atuação inacreditável e merece toda atenção e congratulações que vem recebendo, seu personagem é o meu favorito de todo filme. Nesse ponto tem algo que me incomodou durante praticamente todo o longa e é o fato de que todas personagens parecem pessoas horríveis e dispostas a quaisquer coisas para conseguirem seu objetivo, o próprio personagem principal possui certa característica autista e é um babaca por completo. O Sr. Fletcher é aquele professor que se diz muito bom e tem por objetivo de vida derrubar barreiras nos alunos e alcançar o limite daquilo que eles podem se, mas não me entra na cabeça por que um cara tão bom o que faz está ministrando aulas de música ao invés de realizar turnês mundiais.


Entretanto, mesmo que todos personagens possam ser pessoas desprezíveis e doentes, é no final que você entende o motivo e a relação entre Andrew e o Sr. Fletcher. O final desse filme é dos mais perfeitos que eu me lembro de ter visto, é como se um escritor tivesse colocado o ponto final de seu livro no momento certo e nenhum editor tivesse coragem de tirá-lo dali. Sinto que estou no limite do spoiler, como se cada vírgula adicional poderá revelar algo importante do filme, até a trilha sonora do filme é parte da

experiência e não recomendo a ninguém que a ouça antes de ver o filme.


Whiplash é esquisito e bom, me coloca no limite entre desgostar das personagens e gostar da história e é no final que eu cruzei a barreira do desgosto e, sim, gostei do filme. A sorte está lançada, esse é um dos concorrentes ao prêmio de melhor filme no Oscar 2015.


Comentários:


Amanda: Bom, a primeira impressão que tive quando o filme acabou foi que eu não sei/não toco nada de bateria e, rapidamente, após tal tristeza, indiquei o filme pra todos

conhecidos meus que são músicos pelo simples fato de querer que eles sintam essa angústia. Maldade, eu sei. Ou não, né? Porém, deu certo: a maioria deles viu que não

toca nadinha hahaha. Brincadeiras à parte, querer matar o Fletcher (J. K. Simmons). Isso

passou pela minha cabeça em algumas (várias) situações do filme, pela crueldade, agressividade e exagero com seus alunos, porém, Simmons, com sua atuação tão primorosa e digníssima do Oscar como “Melhor Ator Coadjuvante”, me fez mudar de ideia bem rapidinho, fazendo-o meu personagem favorito do longa.

Whiplash, termo inglês que remete a traduções como “contusão de pescoço” (ou torcicolo) e “chicotada”, sendo esse, o melhor significado pra interpretação do título: um filme de limites e escolhas, trazendo o professor Fletcher num papel, principalmente, de mostrar o que as pessoas são capazes para realizarem tua ambição. O final do longa apresenta basicamente o quão gostosa e estranha (?) é a sensação de poder extravasar, chegar ao ápice do seu objetivo, numa cena muito chocante que, logo em 1 hora e 28 minutos de filme, tive que voltar 4 vezes pra poder acreditar. Sem mais delongas, não falei muito do filme em si, mas sim do que ele me trouxe. Minha dica: assista, principalmente se você for músico (muahahaha), e volto a repetir o que postei no Twitter quando acabei de assistir, utilizando das palavras do Igão, “A sorte está lançada, esse é um dos concorrentes ao prêmio de melhor filme no Oscar 2015”.


Edgar: Se não fosse Birdman, Whiplash seria minha torcida pro Oscar. Tenho certo fascínio por esses filmes que, geralmente, são os azarões.

Whiplash tem uma trama que muito gente já viu por aí: é aquela história do músico talentoso que quer ser o melhor no que faz e encontra percalços no caminho.

No caso do longa de Damien Chazelle, o percalço é o Sr Fletcher, professor do protagonista do filme, interpretado, fantasticamente, por J. K. Simmons.

Não acho muito necessário falar da trilha sonora do filme (ela é eletrizante!) ou da forma agradável com que a história é contada.

O que eu quero, na verdade, é falar por horas e horas e horas sobre a química entre o personagem de Miles Teller, Andrew, e de J. K. Simmons, o Sr Fletcher.

Cada segundo dos dois em cena é quase uma tortura chinesa. Uma tortura que, de tão deliciosa, nos faz parecer masoquistas.

Além disso a natureza antogônica e bipolar da relação entre aprendiz e mestre é outro ponto alto do filme.

O diretor soube dosar perfeitamente a insanidade que é a relação entre o jovem e seu professor, insanidade que, de tão dolorosa para ambos, ora se confunde com cumplicidade.

Uma cumplicidade meio torta, devo admitir, mas basta assistir o filme para entender o que é dito.

Por útlimo, deixa eu fazer coro ao Igão e dizer: que final maravilhoso!

Sem cair em armadilhas comuns aos gêneros de filmes musicais, Whiplash termina no momento certo e tira de nós um daqueles sorrisos leves de satisfação.


Entidade: Quando assisti Whiplash, confesso que, durante o filme, fui levado pela intensidade das cenas e fiquei tenso em vários momentos por ver Flecther agredindo Andrew de todas as formas possíveis.

A obsessão de Andrew para conseguir chegar a um determinável nível é tão grande que ele aceita todas as agressões de forma passiva, chegando até a ensanguentar a caixa da bateria para chegar no ritmo certo e atender as expectativas de seu mestre.

No entanto, depois de refletir um pouco sobre o filme, percebi que ele era extremamente clichê: toda a intensidade do longa, nada mais foi do que um artifício do diretor para transformar aquele clichê "chatinho" e previsível, em um clichê intenso. Toda essa obsessão de mestre e aprendiz soa exagerada demais.

Quando cheguei nessa conclusão, percebi que Damien Chazelle ainda mantém a sua falha presente em outros filmes que ele mesmo roteirizou, como The Last Exorcism Part II e Gran Piano, o de acabar se rendendo à previsibilidade.

No caso de Whiplash, o clichê misturado com intensidade dá tesão no início e acaba brochando no final da trama.

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