top of page

Observações epifânicas acerca da Comic Con XP

  • Foto do escritor: coopingblog
    coopingblog
  • 28 de jan. de 2015
  • 8 min de leitura

E o Co-oping acaba de publicar seu primeiro artigo de opinião. A ideia se mantém a mesma: em cima de um assunto escolhido, a equipe vem "bedelhar".

A o tema da primeira coluna surgiu durante a jornada do nosso membro Edgar pela Comic Con XP, que rolou em Dezembro passado em SP.

Curioso para saber como uma ida a um evento nerd/geek leva a um artigo com nome tão extenso, Observações epifânicas acerca da Comic Con XP?

O texto, e as opiniões dos nossos membros, tá logo aí embaixo!


---

Aconteceu comigo, mas poderia ter acontecido com qualquer um de vocês que estevisse na Comic Con XP: enquanto andava pelos corredores do evento, por diversos momentos, diversos mesmo, observava uma embalagem de sabre de luz na mão de vários participantes do evento.

Sem exagero nenhum, lá pela vigésima vez, não me aguentei de curiosidade e abordei um dos participantes para saber o preço do artigo. “Ora, se tantos estão carregando um pelo evento, deve estar barato!”, pensei.

Meu espanto foi a resposta que recebi. Já não me lembro o valor apontado pela simpática garota que me respondeu, mas só me lembro que o preço não era nada barato. O fato é que, depois disso, dei uma outra rodada pelo evento, dessa vez, mais atento aos preços e, mais ainda, ao que os frequentadores levavam às mãos: as suas compras.

O motivo pelo qual narro essa historinha sem importância na primeira coluna do Cooping é para apontar uma série de epifanias que tive daquele momento em diante e, também, que a própria Comic Con XP me fez ter. Observações que, tenho certeza, muitos de vocês já devem ter feito em uma ou outra roda de conversa sobre assuntos nerds, mas que tem se mostrado cada vai mais presente.

A primeira e mais importante observação e, talvez, todas as outras sejam desdobramentos dessa é que, incontestavelmente, torcendo ou não o nariz para tal fato, o “público nerd”, por assim dizer, tem se consolidado como o “filão do momento”. Eles vão gastar, sim, para ter aquela action figure que falta, eles vão comprar, sim, o ingresso para aquele evento, eles vão colecionar, sim, aquela coleção que a Panini acabou de relançar na edição de colecionador, por exemplo. E me impressiona o tempo que as empresas levaram para perceber isso.

Até poucos anos atrás, a acessibilidade a tudo que se tem hoje em dia era risível. Quantas vezes você teve que ler aquele arco daquela história pela internet? Quantas vezes você acessou o IRC para baixar aquela animação que não foi lançada por aqui? Além disso, muitas eram as action figures e gashapons que necessitavam ser importadas e, maior ainda, era a espera e aflição esperando a entrega desses itens. Sem falar na quase inexistente opção de lazer direcionado ao público. Fazer corujão na lanhouse era a cereja do bolo! Por muito tempo, ouvi amos a clássica “O Brasil não tem mercado para essas coisas”.

mirc.jpg

Momento nostalgia para todos aqueles que enfrentava filas e filas no IRC para

ter acesso àquela HQ que não havia chegado por aqui.

A questão é que, nos últimos anos, essa concepção parece ter mudado, muito se devendo ao fato do “boom” que a cultura nerd vem tendo nos últimos anos. Alguns dirão que não existe “boom”, e, sim, modismo, outros defenderão que o boom é legítimo e que tem muito “nerd xiita” nesse mundo (isso pode até ser tema de uma segunda coluna), mas, não fosse esse crescimento, dificilmente teríamos saído das lanhouses.

Exageros a parte, o problema é que parece que estamos perdendo de vista algumas demandas que realmente importam. Me parece que, no meio de tantas mudanças, estamos meio torpes, caímos no comodismo e que, como nossas expectativas que as coisas chegassem onde chegaram eram tão poucas, nos damos por satisfeitos com certas situações.

Situações como a de pagar uma pequena fortuna por sabres de luz, ou aceitarmos os preços absurdos dos Funkos “mais hypados” (sendo que nos EUA todos tem o mesmo preço!), estarmos “de boa” quanto à periodicidade duvidosa de lançamento de quadrinhos e aos cancelamentos à revelia de determinadas editoras de quadrinhos, aos 250,00 que certas empresas têm a ousadia de cobrar em determinado jogo só porque ele veio pro Brasil, às decisões que certas empresas tomam de abandonar o país (pegou essa, Nintendo?) ou de cobrar R$4000,00 em seu mais novo console e, por fim, nos contentarmos com eventos lixos apenas pelo fato de que lá, você e sua galera poderão se encontrar e bater um bom papo.

funkos.jpg

Em certo site brasileiro, dois Funkos distintos de Game of Thrones, apesar de preços iguais nos EUA, são vendidos a vinte reais de diferença um do outro só pela "relevância" do personagem retratado.


A situação com os eventos, para mim, é a mais complicada. Quando existem, eles acabam descambando para eventos cada vez mais “receita de bolo” e cada vez mais caros. O pior é que se a tal receita fosse de um bolo bom, até dava para engolir (e pagar o preço), mas não é bem assim. Em BH, por exemplo, a equipe do Co-Oping tem um evento que se repete QUATRO vezes ao ano e, além do preço absurdo para entrar, em TODAS as edições não se percebe diferença nenhuma para a edição anterior.

Daí, quando se pergunta para os frequentadores porque eles ainda vão evento, a resposta é bastante simples: Porque é o único que tem por aqui.

O cenário é um pouco, apenas um pouco, diferente para quem mora em São Paulo, capital. O universo que aquela cidade oferece destoa bastante das outras cidades. Tanto que, no Brasil, dos cinco principais eventos que atendem tal perfil (BGS, Anime Friends, Comic Con XP, FIQ e GibiCon), três estão em São Paulo e o FIQ, que rola por aqui, em BH, de dois em dois anos, anda cada vez mais repetitivo e os preços praticados lá dentro não tem sido convidativos.

O que mais chama atenção nisso tudo é que todos nós sabemos que existe espaço para eventos melhores, mas parece que falta vontade de os melhorarem. Talvez por conta do público que não deixa de marcar presença, talvez por falta de visão dos organizadores, mas oportunidade para isso tem.

Prova disso foi a Comic Con XP. A principio, os organizadores não pretendiam alugar toda extensão alugada para se realizar o evento, mas a procura e demanda foram tão grandes que, já no primeiro ano, expandiram o evento e, quem esteve lá no sábado, por exemplo, viu que mais espaço teria sido uma boa.

O evento também foi prova de como esse público está ávido por novidades no ramo.

Claro que bom senso nesses casos também é necessário, oras. Os impostos são altos, sobem o preço desse e daquele produto e fazer um bom evento demanda tempo e dinheiro, mas isso não nos torna obrigados a nos sujeitarmos a certas situações. E é justamente isso que tem acontecido!

O que procuro apontar nessa coluna de estreia é que o nerd vai sempre estar disposto a pagar pra ter o que curte e é isso que acho mais sensacional na gente. Essa paixão e essa impulsividade! Mas que um pouco mais de exigência acerca de “onde e como” gastamos esse dinheiro seria bom para todos.


Por: Edgar Oliveira Schuffner


Comentários:

Amanda: Esses dias, li uma reportagem onde o cara dizia que “o nerd de hoje vem ganhando um status contínuo, se sentindo a vontade para ser o que é”. Essa ascensão do universo nerd, geek, pop, seja lá qual for a caracterização dada atualmente, é realmente, consequência disso. Como citado no artigo, ainda que faltem alguns pontos a serem discutidos, tais como a escassez de eventos e preços absurdos, felizmente tem uma galera apostando nisso, mesmo que devagar. Exemplo: um dos maiores (se não for o maior) evento nerd, vindo ao Brasil que, por sinal eu não fui (rs), mas só ouvi elogios! O “boom” nerd é incontestável e, li num comentário uma vez, que “Nerd is the New Black”: concordo parcialmente, porque sabemos o que falta ainda. Realmente espero que continue assim e que os preços abaixem, porque tá foda. Mas, tenho a esperança que o evento do Co-oping (num futuro talvez não muito distante) revolucionará o público nerd de Belo Horizonte.


Felipe: “Boa vontade”. Essa é a expressão que se ausenta do vocabulário da grande maioria dos organizadores de eventos e responsáveis pelos impostos e afins.

No caso do tal evento que se repete quatro vezes ao ano em Belo Horizonte, sempre as mesmas coisas: pouquíssimos atrativos, inúmeras barraquinhas de artigos de péssima qualidade a preços abusivos, espaços mal organizados dentro do evento, entre outra série de fatores “broxantes”.

O público “nerd” brasileiro, seja ele modismo ou “legítimo”, sofre com os altíssimos preços praticados em artigos que tanto nos agradam (Indireta para a Nintendo), desde os mais simples aos mais sofisticados, todos com seus preços “lá nas alturas”. No meu ponto de vista (creio que no da grande maioria também), o mercado “nerd” já se desenvolveu e está se consolidando cada dia mais (e isso começou já faz um tempo). Os únicos que infelizmente não enxergam isso são os responsáveis em praticar tais valores.


Marina: Quantas vezes você não se deparou com aquela edição definitiva daquela HQ, que você adora, mas não achou em nenhuma loja brasileira? Ou aquela miniatura que é o seu sonho de consumo, mas o preço sempre faz você sentir arrepios?

E o mais interessante dessa situação toda, é que a gente acaba comprando mesmo assim, de uma forma ou de outra (muitas vezes por sites de fora do Brasil ou pagando aquele preço absurdo da única loja com esse tipo de produto da cidade). Agora vamos pensar no público nerd: atualmente é um público extenso, plural e com adeptos de todas as idades e grupos sociais. Muita coisa não é? Difícil pensar que com um público tão diversificado assim, seja difícil encontrar com o que gastar dinheiro. Penso que até mesmo uma situação engraçada essa de “Não ter onde gastar dinheiro”. o nerd é uma pessoa apaixonada, que gosta de colecionar, de personalizar tudo, enfim, mostrar o seu amor por aquilo ali que ele gosta.

Quando se trata de eventos destinados a esse tipo de público é mais crítica ainda a situação. Muitas cidades (cidades grandes para deixar claro) possuem como maior atração eventos de animes, que, apesar de estarem nesse meio, nem todo mundo se identifica com o clima, fora que estes acabam se tornando repetitivos e pouco atraentes para quem é fã de filmes e games por exemplo. Mas a gente acaba indo mesmo assim, porque “É o que tem pra hoje” e isso se repete periodicamente com o público engolindo tudo o que nos oferecem (que ainda é bem pouco vale ressaltar) como bons nerds que nós somos. Todos viram bem com a CCXP que VALE A PENA SIM investir no público nerd e se importar também com essa massa crescente de apaixonados por toda essa magia.


Santiago: A falta de valor à cultura nerd não apresenta ser algo passageiro, mas sim algo que veio para ficar, como foi dito acima. Chega a ser deprimente, ja que é algo que veio crescendo tanto nos últimos anos. É como se, após terem um público maior do que o esperado, eles, os organizadores, simplesmente cruzassem os braços e deduzissem que, na próxima edição, o número não cairá, o que, de fato, costuma ser assim.

Eventos locais que, mesmo já tendo em mente do número de visitantes em crescimento a cada edição, tendem, ao invés de promover ofertas para que os lucros venham a partir de um número maior de compradores, gerando assim, tanto um benefício para o bolso do comprador quanto para os lucros diários do evento, aumentam os preços visando o benefício só para si.

Preços que fazem os participantes juntarem suas economias durante meses para irem até os eventos e comprarem um ou dois encadernados para que aquele jovem possa finalmente ler o arco mais esperado da história do seu herói preferido. Claro que, hoje com a internet, é muito mais fácil (no caso dos quadrinhos) ler online no conforto de casa sem ter que pagar custos adicionais (Hail the Scan).

Além disso, tem os impostos altos que fazem com que os produtos vendidos sejam mais caros, lá, durante o evento, do que numa loja virtual. Isso, sinceramente, é algo que me desanima de ir nos eventos locais. Porque diabos eu vou até o centro da cidade para pagar quase duzentos reais num encadernado, quando posso comprá-lo numa loja virtual por menos de cem reais?

 
 
 

Comments


bottom of page